[…] Dudley Franklin, soltou um peido, um longo e estridente solo de trompete, durante uma pausa de absoluto silêncio uma aula de Geografia. Está claro que desatamos todos a rir (para uma aula cheia de miúdos de onze anos, não há nada mais cómico do que uma boa rajada de gases), mas aquilo que salvou este episódio de ir parar à categoria dos embaraços menores e lhe conferiu um estatuto de clássico, convertendo-o numa perene obra-prima nos anais da vergonha e humilhação, foi o facto de Dudley, inocente como era, ter cometido o erro fatal de apresentar desculpas a colegas e professores «Desculpem», disse ele, de olhos postos na carteira e tão, mas tão vermelho, que as suas faces mais pareciam um carros dos bombeiros pintado de fresco. Uma pessoa nunca deve assumir um peido em público. Quem o diz é a lei não escrita, a lei que decorre dos costumes. Trata-se da única regra verdadeiramente sagrada da etiqueta americana. Os peidos não têm origem em ninguém nem vêm de sítio algum; são emanações anónimas que pertencem ao grupo como um todo, e, mesmo quando todas as pessoas na sala sabem quem foi o culpado, a única atitude saudável é negar terminantemente. Contudo, o pateta do Franklin era demasiado honesto para fazer uma coisa dessas e o resultado foi que nunca mais se livrou do erro cometido.
As Loucuras de Brooklyn, Paul Auster
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